"Já vejo que tomais o caminho para o Calvário, eis a vossa esposa que prontamente vos segue. Outro desejo não tenho a não ser o de me tornar uma perfeita cópia de vós. Se vossa vida não foi senão vida de amor e sacrifício, de agora em em diante deve ser a minha. Por isso agora entendo encerrar-me em vosso coração, como num deserto" (Letra: Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus; Música: Irmã Kelly Patrícia).
Iniciamos hoje o caminho de preparação para a celebração solene da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, o período da Quaresma. Apesar de sempre sermos chamados ao arrependimento de nossos pecados e à conversão, neste tempo propício a Igreja inteira mergulha profundamente na meditação acerca da nossa experiência de buscadores de Deus neste mundo, convidando-nos, de forma mais intensa, a mudar de vida e a ansiarmos de modo mais eficaz a salvação eterna.
Para isso, seguindo os passos de Jesus, entramos com ele no deserto, persistindo quarenta dias nesse grande retiro espiritual. Contudo, ao contrário do Cristo que se afastou por completo, física e espiritualmente, do mundo, somos chamados a continuar nossas atividades ordinárias (estudo, trabalho, afazeres domésticos), passando, porém, por um deserto espiritual. Somos chamados a fazer com que nossas almas passem por uma salutar aridez, que as permitirá conhecer melhor, pela oração, jejum e esmolas, os pontos negativos que precisamos mudar, os pecados que precisamos vencer, as intrigas que precisamos findar, o perdão que necessitamos experimentar.
Em meio a esse grande abandono de nós mesmos, desse esvaziamento interior que passamos a experimentar hoje de modo mais forte, para que consigamos suportar todas as adversidades próprias de um lugar inóspito, como é o deserto, é indispensável nos livrarmos de toda a bagagem excedente, de todo o peso inútil, de todo o pecado que atrapalha nossa caminhada, caso contrário não conseguiremos chegar ao final de nosso trajeto. Devemos ter em mente que nosso destino é a terra prometida, e que essa terra que "mana leite e mel" é o lugar onde desfrutamos da doce companhia de Deus e onde somos sustentados por sua Graça, o Reino dos Céus.
As cinzas que hoje recebemos nos lembram que "somos pó, e ao pó voltaremos", e, aludindo à nossa própria morte, tem por objetivo nos fazer notar a brevidade de nossa vida e o tempo limitado que temos para, fazendo a vontade de Deus, chegarmos ao convívio dos eleitos do Cordeiro. Por isso a palavras que escutamos durante sua imposição em nossas frontes: "convertei-vos e crede no Evangelho", devem ecoar não apenas ao longo desses quarenta dias, mas por todas as nossas vidas, como uma perpétua preparação para nossa própria páscoa, momento em que passaremos de nossa existência corrompida à glorificação celeste.
Portanto, a fim de caminharmos sem o peso do pecado, que nos enfada e destrói, e de nos prepararmos dignamente para a celebração da Páscoa do Senhor, ápice da nossa Fé Cristã, intensifiquemos pelas orações nossa intimidade com Deus, estabeleçamos pelo jejum limite às nossas vontades desenfreadas, combatamos pelas esmolas (caridade) nosso apego ao mundo, e, por fim, busquemos pelo sacramento da Confissão o perdão de nossas faltas.
Lembremo-nos ainda, neste tempo de dificuldade em que vive a Igreja, de rezarmos pelo Santo Padre Bento XVI, para que tenha serenidade e paz neste momento de transição do Pontificado, bem como pelos cardeais que em breve se reunirão no conclave para, sob imprescindível assistência divina, eleger o novo sucessor de Pedro. Por fim, peçamos à Bem Aventurada Virgem Maria que abençoe, ampare, proteja e anime o futuro Pontífice, fazendo-o ser fiel aos ensinamentos de seu Divino Filho e cumprindo o sagrado encargo de conduzir a Igreja militante rumo ao Céu.
Uma Santa e abençoada Quaresma.
Salve Maria!
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