terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima: algumas considerações.




Há poucos dias (mais precisamente quatro), a Igreja celebrou liturgicamente um dos privilégios concedidos por Deus a Virgem Maria, declarado de modo solene como Verdade de Fé pelo Santo Padre Pio IX, em 1854, a graça que recebeu de ser concebida sem a marca da culpa original, em previsão dos infinitos méritos de seu Filho.

Aqui na Região Metropolitana do Recife, como em vários outros lugares do Brasil, a Santa Mãe de Deus é extensamente venerada pela piedade popular nesse dia. Gentes de todas as idades, cores, sexos, classes sociais, sobem anualmente o famigerado Morro da Conceição para agradecer por mais um ano de bênçãos, para pedir graças e pagar promessas feitas. É uma tentativa de encontro com Aquela que o povo, tranquila e instintivamente, aceitou como sua Mãe, sem a necessidade, para isso, de longos estudos ou intensos debates teológicos.

Como forma de demonstrar o amor que sentem por sua Boa Mãe, centenas e milhares de pessoas se aglutinam nas ladeiras que dão acesso ao Santuário a Ela dedicado. Há quem percorra o trajeto de joelhos, a pé ou mesmo se rastejando. Crianças vestidas de anjos e uma infinidade de velas acessas aos pés da imagem da Imaculada são de praxe. Paralelamente, centenas de vendedores ambulantes vendem de tudo: desde artigos religiosos a bebidas alcóolicas (o que acredito ser absurdamente inadequado a uma festa religiosa, diga-se de passagem), movimentando e muito o comércio local. Nem o sol nem a chuva são capazes de fazer com que, ininterruptamente, a imagem se repita ano após ano. Eu, porém, recatado que sou, prefiro participar da Santa Missa deste dia de preceito na Matriz de Beberibe, da qual a Imaculada Conceição também é padroeira. Mas isto é outra estória.

O que me leva a digitar esse texto é algo que a pouco tive o prazer de estudar e o que São Luiz Maria de Montfort relata em sua mais famosa obra, “O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria”, a saber: os excessos do culto e as falsas devoções praticadas. A despeito do termo “falsas devoções”, não significa que as pessoas que incorrem neste erro são mal intencionadas, pois geralmente essas pseudodevoções passam despercebidas por aqueles que a praticam.

Como bem nos mostra o Santo de Montfort no livro que acabei de citar, a devoção para com a Santíssima Virgem é necessária aos cristãos para uma mais perfeita imitação de Cristo, nosso objetivo nas estradas dessa vida. Transcorrer os passos de Jesus no decorrer dos tempos sempre foi a realidade da Igreja e o desafio amorosamente aceito pelos Santos. Contudo, devido à dificuldade da perseverança nesta via bendita, ante todas as seduções do mundo e tentações do demônio, muitos foram os que dela saíram e perderam a Graça de Deus. Sobre essa realidade, nos diz São JoseMaria Escrivá: “Começar é de todos; perseverar, de Santos”, mostrando que a única maneira de chegar à Santidade é através do fiel seguimento do discípulo por toda a sua vida, precisando, para isso, estar imprescindivelmente sustentado pela Graça Divina.

Como forma de mostrar um caminho certo e tranquilo para chegar a Jesus, São Luiz nos apresenta como meio extremamente eficaz a Devoção a Virgem Maria. Fiel discípula, humilde de coração, vazia de si mesma, mas totalmente repleta da Graça Santificante, como narra o Santo Evangelista a saudação do Arcanjo: “Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum” (Ave, Maria, cheia de Graça, o Senhor é contigo) (Lc 1,28), Maria consiste no exemplo perfeito de seguimento e submissão à vontade do Altíssimo. Nada queria juntar para si, mas tudo queria oferecer a Deus. Desde Nazaré a Jerusalém, da Anunciação ao suplício de seu Filho na Cruz, viveu contínua e decididamente seu Fiat interior e silencioso, no qual repetia em seu coração aquilo que Ela mesma exortou aos serventes nas Bodas de Caná da Galileia: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Por esses e tantos outros motivos que aqui não serão citados (por minha débil compreensão da posição que esta Bendita Mulher ocupa, e devido à minha própria insignificância diante dos infinitos favores que o Senhor a concedeu, não permitindo que eu enxergue o esplendor que o Altíssimo a quis revestir), precisamos ser devotos da Amorosa Escrava do Senhor.

Aqui chegamos ao ponto principal do texto: afinal, o que é ser devoto? A verdadeira devoção implica, além da admiração e amor próprios para com a Doce Maria, sobretudo, no esforço de imitar seu exemplo de discípula de Cristo. Para ser verdadeiro devoto da Virgem Maria, é necessário ter uma vida sacramental (confissões, comunhões etc) concreta; ser incessantemente orante; exterminar o amor próprio, enraizado no coração, permitindo, assim, mergulhar profundamente nas águas da humildade; e, que como consequência, depois de tão vazio de si mesmo, tornando-se inteiramente de Maria, esta humilde Senhora, por intermédio de seu Adorável Esposo, o Espírito Santo, gerará nesta alma mais uma vez o seu Divino Filho, ao ponto de que este pobre pecador, amparado na Misericórdia Divina, enfim poderá exclamar com o Apóstolo: “Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).

Por isso, devemos ter cuidado com as falsas devoções a Santa Mãe de Deus, das quais, como ainda nos recorda São Luiz, são ciladas armadas pelo demônio para enganar as almas, fazendo com que estas, achando erroneamente que são verdadeiras devotas da Santíssima Virgem, vivam uma vida tíbia e sem a verdadeira chama da Fé e da Caridade, que consome o coração e leva ao Céu. Devemos ainda lembrar o que diz o Santo Autor: toda verdadeira devoção tem, obrigatoriamente, Cristo como seu fim último. Em outras palavras: a devoção tem de levar a pessoa a uma real mudança de vida, a fim de que esta possa, por auxílio dessa prática de fé, imitar verdadeiramente a Cristo; do contrário, é falsa e enganosa!

Isso posto, que a nossa expressão de fé não seja simplesmente o resultado de uma cascata de neurotransmissores agindo no organismo ou que esta fique restrita às exterioridades, caracterizadas na demonstração de uma emotividade infértil e efêmera. A Fé é uma realidade profunda do Crer, não sendo fundamentada superficialmente no Sentir. O nosso relacionamento com Maria deve nos levar a uma mais perfeita vivência de seu fidelíssimo exemplo de discípula, serva e missionária, levando-nos, deste modo, a uma intensa comunhão e união com o Senhor, pelas quais somos salvos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Salve Maria!
Comecei a ler se texto no facebook e vim para cá terminar. Não me arrependi, definitivamente. Ótimo texto!Que bom seria se todos tivéssemos uma devoção verdadeira.
Maísa.

Natanael Júnior disse...

Nossa Alegria!

Que bom te receber no blog, irmã Maísa! Muito obrigado pelas palavras.

De fato, seria maravilhoso se todos tivéssemos a prática devocional que nos propõe São Luiz Maria de Montfort. Certamente, caminharíamos a passos largos em direção ao Céu e tantos outros irmãos, vendo os exemplos de testemunho, traçariam os mesmos passos através da Devoção à Santa Mãe de Deus e nossa.

Arquivos